Resenha | BOAS ESPOSAS, por Louisa May Alcott

Capa do livro resenhado

Ficha Técnica

Parte II de Mulherzinhas
Gênero: Infantojuvenil/ Romance Histórico
Primeira Publicação: 1869
Publicação: 2019
Editora: Zahar/ Clássicos Zahar
600 páginas *

* Dividi a resenha em duas partes, pois há editoras que publicam separadamente os dois volumes (Esta resenha se refere aos 24 capítulos finais)

Sinopse **

** Esta sinopse é da edição que eu li, onde inclui a Primeira Parte (Mulherzinhas)

Dezembro de 1861, Massachusetts. Meg, Jo, Beth e Amy March enfrentam seu primeiro Natal sem o pai, que serve na Guerra Civil. É o marco inicial da jornada de formação das quatro irmãs, e Mulherzinhas as acompanha nesse processo até a vida adulta. Entre alegrias e aflições, desafios e conquistas, perdas e aprendizados, crescemos com elas...

O romance tem sensibilidade, humor e pulso e mostra que um universo familiar e cotidiano pode ser o celeiro de mudanças importantes, ao defender – sem falsa moralidade – princípios como a virtude acima da riqueza, a equidade entre os gêneros e a realização individual sem prejuízo do bem coletivo.

Essa edição traz o texto integral, centenas de notas, apresentação e cronologia de vida e obra de Alcott, além de cerca de 130 ilustrações consagradas de Frank T. Merrill.

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Resenha

Temos aqui a continuidade da história das irmãs March, cerca de três anos após Mulherzinhas – ou a Parte Um do livro, no meu caso. Nesta história, as quatro irmãs crescem e cada uma segue seu destino: Meg está prestes a se casar, Jo tentando iniciar uma carreira literária, a pobre Beth infelizmente nunca se recuperou da escarlatina e agora está praticamente confinada em casa, e a pequena Amy está crescendo rapidamente e tem a sorte de ter a oportunidade de poder viajar com uma tia rica para a Europa.

Senti que esse volume foi um pouco mais arrastado que o anterior; as longas homilias reflexivas e a sensação permanente de um direcionamento de como deveríamos entender cada personagem me cansou um pouco, e o fato de as meninas crescerem tirou quase toda a diversão, deixando uma leitura um tanto maçante. Mas devemos considerar que é uma publicação do século XIX, portanto seria anacronismo exigir um ritmo muito diferente.

Cada menina precisa amadurecer ao passar por seus respectivos obstáculos. Meg aprendendo a ser uma boa esposa e mãe, conciliando as exigências das duas tarefas; Jo, ao entender como manter o que ela considera moral em um trabalho não tão louvável, considerando que não reforça nem um pouco seus valores cristãos; vemos ainda a doce Beth lidando com o fato de que pode talvez nunca envelhecer e focando em aproveitar o tempo que lhe resta sem se preocupar com o futuro, enquanto que Amy deve pesar e reconsiderar suas prioridades, colocando os outros em primeiro lugar e compreendendo que dinheiro e coisas boas não são nada em comparação com um bom coração e amor incondicional.

À medida que a leitura avança, vemos que cada uma delas têm seu próprio caminho a percorrer e, embora haja muita alegria ao longo do caminho, também há muita tristeza, sofrimento e lições a serem aprendidas. Em todas as coisas, eles buscam a força silenciosa e a sabedoria de sua mãe, cujas gentis repreensões e amoroso encorajamento as ajuda a superar suas provações e os ajuda a valorizar mais as coisas boas da vida.

Louisa May Alcott, embora bastante à frente de seu tempo, não foge completamente das influências do período em que viveu, pois suas histórias são todas sobre garotas sendo obedientes, independentes mas fiéis a Deus; desenvolveu personagens que têm virtudes cristãs como característica. Ela mesma, aliás, participava do movimento transcendentalista. Até entendo se o excesso de lições de moral e religião podem ser um pouco demais para o leitor moderno, mas é como embarcar em uma viagem no tempo, pois nos dá (de forma romantizada e ficcional) uma ideia de como eram as coisas naquela época. Não sou fã de Romance Histórico, mas senti a necessidade de ler esse clássico e não me arrependi, pois é uma excelente leitura para nos dar um parâmetro geral de como era uma mulher feminista naquela época e como a religião e os costumes influenciavam fortemente a população, mesmo aquelas com ideias e ideais menos obtusos.

Comentários Com Spoiler ⚠️

Este volume é o responsável por destroçar os corações de quem tinha esperança de ver o casal Jo e Laurie. Na realidade, desde o início dá para perceber que o final não seria interessante para os dois, já que a Sra. March diz que não acha que eles são adequados um para o outro. Isso sem citar que ele deixou de ser um menino divertido e amoroso para se comportar como um jovem adulto bastante mimado e às vezes, irritante.

Eu fiquei muito chateada com o destino dos dois. Achava que eles eram um casal bem cativante, mesmo considerando minhas observações sobre Laurie. Eles tinham muita química, e mesmo a autora fazendo todo um malabarismo para separá-los, continuo achando que no fundo eles se amavam e foram apenas vítimas das circunstâncias.

[...] Sou caseira e desajeitada e estranha e velha, e você teria vergonha de mim, e nós brigaríamos… não somos capazes de evitá-lo mesmo agora, você não percebe?… E não me agradariam as companhias elegantes, ao contrário de você; e você odiaria minha escrita, e eu seria incapaz de viver sem ela, e seríamos infelizes e desejaríamos não ter feito isso, e tudo seria horrível! [...]

Jo se mantém assustadoramente pragmática ao levar tão alta conta os efeitos sociais caso ela ficasse com Laurie – pesou muito mais até que comportamento de Laurie no início dos acontecimentos; para mim, essa é a real motivação de ela não se permitir com Laurie.

Ela se julga não ser uma moça comum e apropriada para ele e por esse motivo, tem medo disso possivelmente destruir o que eles têm de bom, afinal cobranças excessivas só tenderiam a acabar com o que começou como uma doce amizade. Além disso, ela pensa que talvez não seja capaz de ter paciência nesse tipo de relação – ou pelo menos foi o que absorvi de algumas passagens da história – ao dizer coisas que dão a entender que prefere seus heróis imaginários a homens reais.

[...] ‘Como ficam bem juntos! Eu estava certa, e Laurie encontrou a moça linda e refinada que cuidaria melhor de sua casa do que a desajeitada Jo, e que será um orgulho, não um tormento para ele.’ [...]

A relação de Jo e o Professor Bhaer, até que funciona, embora ele seja mais velho e às vezes aja como um segundo pai. Ele é um acadêmico, que adora crianças e é tão distraído que é difícil odiá-lo por não ser Laurie. O que concluí desse envolvimento é que Jo escolheu a relação mais simples e que além de lhe dar carinho e amor, lhe daria confiança para ser o mais próximo de quem ela realmente era.

Mas o casal Amy e Laurie não me convenceu da mesma maneira. Ela fez o grande “esforço” de se casar um rico menos rico do que ela queria, mas no final das contas dá para perceber que ela tem sentimentos sinceros por ele – embora não saiba dizer se ela sequer o consideraria uma opção desde o início se ele fosse pobre.

Já Laurie, esse não me engana: mesmo nos momentos finais, senti que havia ainda uma fagulha persistente entre ele e Jo. Eles são feitos um para o outro! Eu tenho a sensação que Amy é apenas a segunda opção, e Jo será para ele aquele tipo de amor que não pôde ser usufruído e por isso fica guardado. Não poderia ter uma, fazer o que? Pois bem. Então fiquemos com essa bela moça aqui.

Sem dúvida a parte que mais me emocionou aqui foi a aceitação de Beth de sua condição, seguida de seu falecimento. E o fato de seu maior temor ser de ela ir tão jovem, antes de ter algum papel significativo na vida alguém, foi algo que me partiu o coração.

[...] a morte não poderia romper os elos familiares que o amor tornava indissolúveis. [...]

Quanto a Meg, esta sentiu na pele o mal de ser pobre e mulher. Mas o que mais me incomodou foi a coitada ter nas costas a total responsabilidade de seu casamento estar tomando um rumo infeliz – cobrança presente no machismo da época e que perdura até hoje (!) em muitos setores da sociedade.

E se vamos falar de machismo, precisamos lembrar que da mesma maneira, a total responsabilidade do sustento do lar é de John – embora ele tenha a vantagem de “escolher” ser um bom marido ou não e jamais sofrer julgamentos por isso; além de poder fugir da esposa que está quase entrando em parafuso pelo excesso de deveres.

[...] Estava nervosa e exausta, com tantas vigílias e preocupações, e vivia naquele estado irracional de espírito que a melhor das mães vez por outra experimenta, quando os cuidados domésticos a oprimem, a falta de exercício lhe rouba a alegria [...]

No entanto, não dá para ignorar o quanto à frente de seu tempo estão os constantes conselhos de sua mãe, que apesar do discurso para que ela seja uma boa esposa, feliz e tranquila – era a versão do “bela, recatada e do lar” –, também diz algo bem moderninho àquele século, que é a divisão de cuidados com os filhos.

[...] A felicidade no lar não chegou de uma só vez, mas John e Meg descobriram a chave para ela, e cada ano da sua vida de casados lhes ensinava como usá-la, desvelando os tesouros reais do amor doméstico e da ajuda mútua, que os mais pobres podiam possuir e os mais ricos, jamais comprar. [...]

Independentemente das questões de injustiça social da época e toda a questão do feminismo, essa é uma história de uma família unida e que se ama acima de tudo. E no fim, é isso. A meta de vida no final nas contas é essa tal de felicidade. Pode ser cafona e antiquado? Talvez. Mas no fim, o que resta são as pequenas coisas e aqueles que amamos que nos fazem sentir bem.

Curiosidades

  • Tem inspiração autobiográfica;
  • Foi feito a pedido, com objetivo de ser um “livro para garotas” e por isso, escrito sem muitas pretensões pela autora;
  • Existem continuações: Boas Esposas/ Mulherzinhas II (que nesta edição foi publicado junto à Mulherzinhas), Homenzinhos (do inglês Little Men, mostrando a vida de seus filhos quando crianças) e Jo e os Rapazes (do inglês Jo's Boys, mostrando a vida dos filhos de Jo e de suas irmãs, já adultos);
  • Há algumas adaptações cinematográficas. A mais recente é de 2019, sob o título de “Adoráveis mulheres”, com direção de Greta Gerwig.

Visão Geral

Plot 8,5
Personagens 8,5
Impacto Pessoal 9
Final 8

Em Suma

Indispensável. Vibrante. Aquece o coração | 8,5

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