Resenha | CONTOS DA ACADEMIA DOS CAÇADORES DE SOMBRAS, por Cassandra Clare (em coautoria com Sarah Rees Brennan, Maureen Johnson e Robin Wasserman)

Capa do livro resenhado

Ficha Técnica

[Universo dos Caçadores de Sombras]; Spin-off
Gênero: Young Adult/ Baixa Fantasia/ Contos
Publicação: 2017
Editora: Record/ Galera
504 páginas

Sinopse

Todas as histórias são verdadeiras. E, dessa vez, Simon Lewis está pronto para contar a dele. [...] Simon não se lembra do seu passado, das aventuras que viveu ao lado dos amigos... Nem sequer sabe quem é, de fato. Então, quando a Academia de Caçadores de Sombras reabre, o rapaz mergulha nesse novo mundo, determinado a se reencontrar. Mesmo sem ter certeza de que quer voltar a ser aquele velho Simon de antes. Mas o local é muito hostil e Simon acaba enxergando muitos problemas em sua nova escola. Como o fato de os alunos mundanos serem obrigados a viver no porão, ou sofrerem com as piadas e os preconceitos dos Nephilim. Numa jornada para se redescobrir, para voltar a se reconhecer entre os antigos amigos, como Clary Fairchild e sua amada Isabelle Lightwood (mesmo que ele não se lembre desse amor), Simon vai descobrir que pode ser mais do que antes. Que seu destino como Caçador de Sombras vai muito além de sua missão de voltar a ser quem era.

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Resenha

Antes de mais nada, não recomendo a leitura desse livro se você não leu o sexto e último volume de Instrumentos Mortais (IM). Ele tem grandes spoilers do final e isso não é nada divertido, principalmente se você for fã de Simon. Já leu? Então, esse livro serve como uma extensão de IM, pois nos esclarece o que se sucedeu com meu queridinho vampiro — agora ex-vampiro — após sua amnésia inesperada.

O livro é dividido em dez contos, mas não acho que as histórias aqui funcionem bem separadas. Elas seguem uma ordem cronológica, contando a evolução de Simon na Academia. Lê-las fora dessa linha temporal não seria o mais adequado, em especial os últimos contos, que esclarecem alguns sentimentos e também possuem alguns fatos que seriam menos interessantes se revelados antes da hora, o que me faz pensar que funcionariam bem como capítulos. Traz bastante complementação não só de IM mas também de personagens das outras séries, tanto as já lançadas quanto aquelas que não tinham sido lançadas na época deste livro – Peças Infernais, Artifícios das Trevas e, bem de leve, As Últimas Horas.

Nessa obra, a autora traz muito sobre preconceito e discriminação, além de muitos momentos divertidos intercalados com sombrios, como é de praxe para ela. O fato de Simon ter vivido do "lado de lá" — do oprimido — e esteja quase atravessando a linha que o iguala ao opressor – por meio da pretensa ascensão –, faz com que todas suas dúvidas e críticas sejam mais legítimas.

Nós vivemos numa lógica moral com base judaico-cristã, causando estranhamento nessa metáfora da situação onde há opressor/ oprimido representados por seres angelicais/ demoníacos, mas colocando isso de lado, vejo que Cassandra traz, assim como é feito com os mutantes em X-men, um palco para inserir esse tema nas entrelinhas – e às vezes bem escancarado mesmo –, sem deixar de usar uma linguagem bastante acessível e divertida em toda sua escrita, ajudando aos poucos a suscitar um pensamento crítico principalmente aos mais jovens, que são seu público alvo.

[...] – Existem dois nichos diferentes na Academia — [...] — O dos mundanos, em que explicam o mundo em mais detalhes e oferecem o treinamento básico de que tanto necessitam, e o dos Caçadores de Sombras de verdade, onde o treinamento é mais avançado. Julie sorriu. — O que Beatriz está falando é que tem a elite e tem a escória. Simon [...]

Bem-vindo à Academia dos Caçadores de Sombras – Temos o aspecto geral de como é o funcionamento e a estrutura física nada empolgante da Academia, e de como Simon se sente em relação à sua amnésia e à pressão de corresponder às expectativas de seus amigos e da sua “talvez” namorada. São apresentados os personagens que irão acompanha-lo até a formatura.

O Herondale Perdido – Durante todos os contos, o tema preconceito realmente é muito presente, e aqui entendemos muito de como os Caçadores são cegos em sua ideologia e muitas vezes extremistas quanto à sua “Sed lex, dura lex” tão temida. Há um arco muito curioso sobre a linhagem Herondale que reforça isso e nos permite entender que o problema dos Caçadores vai muito além da divisão entre aqueles “puros” e a “escória” que se faz na Academia. E ainda há espaço para um pouco do drama pessoal de Simon, assim como nos demais contos.

[...] — Somos o que nosso passado fez de nós — disse Catarina. — O acúmulo de milhares de escolhas diárias. Podemos mudar, mas jamais podemos apagar o que fomos. [...]

O demônio de Whitechapel – Tessa dá uma palestra sobre como eram seus tempos de Caçadora, quando ela era Tessa Herondale, o que foi bom para matar um pouco das saudades; Jace também contribui com o treinamento dos alunos e mostra suas habilidades de guerreiro.

Nada além de sombras – Jamie Herondale é o destaque desse conto. É mostrado sobre suas habilidades peculiares e seu jeito tímido e introvertido em meio à Academia, entre amigos muito mais populares. Por ser filho de Tessa, ele também sofreu preconceito, mas sempre tentou agir de modo a evitar que isso atingisse sua mãe.

[...] As pessoas têm medo de qualquer pessoa que seja diferente. Faz com que temam que todas as outras pessoas também sejam diferentes e na verdade só estejam fingindo ser iguais. [...]

O mal que amamos – Aqui a história retorna aos acontecimentos que levaram ao desastre que foi o Ciclo de Valentim, e como que às vezes uma personalidade cativante não passa de uma armadilha que busca sua confiança, te seduz e, se você não tiver convicção suficiente para reafirmar suas próprias escolhas, tende a mostrar o pior de si em prol de outrem. Há também um subplot com Isabelle que é bem divertido.

[...] Contra todas as probabilidades, passou a sentir-se em casa na Academia. Uma casa gosmenta, mofada e que parecia uma masmorra sem privadas funcionando, talvez, mas uma casa ainda assim. [...]

Os reis pálidos e a princesa – Aqui é possível entender os efeitos da Paz Fria no Povo das Fadas e aqueles quem qualquer ligação com eles. Fiquei aflita ao me deparar com as diferentes posições e o tanto de ódio que os Caçadores passaram a depositar em todo e qualquer indivíduo relacionado às fadas, independentemente de suas opiniões pessoais, e baseado única e exclusivamente na raça. É um lembrete importante que, assim como se passa no mundo real, é tudo uma questão de perspectiva e que o entendimento das nuances envolvidas nas circunstâncias pode impedir muitas injustiças.

Língua afiada – Embora o conto anterior tenha sido tocante e agoniante em diferentes momentos, esse aqui sem dúvida não fica atrás; temos a participação de Mark Blackthorn, e como ele ainda mantém a esperança de ser resgatado e a dor que ele sente ao estar afastado de sua família. A história sai completamente do contexto da Academia, mas gostei muito de ela existir.

O teste de fogo – Há alguns acontecimentos confusos, explicados no final, e um Simon já menos assustado que na chegada à Academia. Achei meio longo para o enredo que possui, e por isso senti que foi mais arrastado.

Nascido para a noite sem fim – Os pontos de vista da narrativa se alternam entre Magnus e Simon. A perspectiva de Magnus foi leve e os eventos bastante divertidos, e foi a parte que mais me agradou no conto, enquanto que a parte de Simon mais se foca nos sentimentos de todos em relação ao grande dia da cerimônia de ascensão.

[...] Algumas vezes acho que é muito difícil acreditar em si mesmo. Você simplesmente faz as coisas que não tem certeza se sabe fazer. Você simplesmente age, apesar de não ter certeza. Eu não acredito que possa mudar o mundo... Isso soa tolo até mesmo na hora de falar, mas vou tentar. [...]

Anjos que caem duas vezes – Um encerramento com momentos emocionantes, e o sentimento de que agora sim a história de Simon foi concluída; isso, aliás, foi um alívio e tanto para mim, pois quando li o último volume de IM, fiquei com uma sensação de What a Fuck?, pois meu personagem favorito acabou tendo um final aberto. Na realidade, nem sempre é necessário um encerramento para todos os personagens, e aquele livro foi realmente bom. Mas é o Simon, né? Meu queridinho merecia seu livro. Mas devo lembrar que para alguns leitores, o livro pode não ser muito atraente, haja vista que Simon se sente bastante deslocado e um fraco em relação a todos. A parte do preconceito acho difícil ser maçante para quem acompanha a autora, considerando que a maior parte de sua escrita reforça problemas que envolvem discriminação nesse universo mágico e faz algumas alusões ao nosso mundo real.

Visão Geral

Plot 7,8
Personagens 7,8
Impacto Pessoal 7,8
Final 8,2

Em Suma

Divertido. Empolgante. Tocante | 7,9

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